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Incêndios também afetaram Matão

Estado de São Paulo atingiu número recorde de 3.496 ocorrências

Perto do Sítio Santa Tereza. Defesa Civil contou com o caminhão pipa da Baldan Agrícola para debelar o incêndio
Foto: Divulgação

Matão enfrenta um período raro de estiagem. De acordo com os levantamentos da Defesa Civil local, no último mês de março choveu 161 milímetros, sendo que a média histórica desde 1914 para o referido mês é de 162, segundo os dados da Fazenda Citrícola (Terral Agro). Do último dia 1º de abril até esta sexta-feira (30) se passaram 152 dias, dos quais em somente sete deles choveu: 5 e 17 de abril (respectivamente 35 e 1,5 milímetros); 26 de maio (23,8); 1º e 3 de julho (8,4 e 0,2); 8 e 25 de agosto (10,2 e 20,4). Assim, nos últimos cinco meses, caíram apenas 99,5 milímetros, conforme as informações da Defesa Civil.

Em 110 anos, nada choveu em três meses de abril; cinco meses de maio; 17 meses de junho; 31 meses de julho; 27 meses de agosto; cinco meses de setembro e um mês de outubro. Os piores períodos sem chuva ocorreram nos meses de maio, junho, julho e agosto de 1944; julho, agosto e setembro de 1949; e maio, junho e julho de 1963. Contudo, as quantidades de canaviais, estradas próximas a matas com vegetação seca, bem como do limite de casas e outros prédios do perímetro urbano perto de matas e canaviais, se tornaram bem maiores nas últimas décadas. Além disso, deve ser levada em consideração a atuação criminosa ou não por parte de pessoas que ateiam fogo.

Este ‘pacote de coisas’ associado à baixa Umidade Relativa do Ar (URA) levou o estado de São Paulo a um triste recorde, considerando os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde quando o levantamento é feito, a partir de 1998. Neste mês de agosto foram constatados 3.496 pontos de incêndio em terras paulistas, número quase dez vezes maior do que o registrado em agosto de 2023, quando o fogo atingiu 352 locais. Em nosso estado, 48 municípios tiveram incêndios de maiores proporções.

A quantidade de 3.496 incêndios ultrapassa em mais de dez vezes os 315 pontos anotados em agosto de 2022, a menor soma para o mencionado mês desde 1998. O recorde anterior ocorreu em agosto de 2010, com chamas de fogo em 2.444 lugares. Infelizmente, Matão também colaborou para este cenário de terror, que agride boa parte do território paulista e de outros estados. Sobre o assunto, A Comarca entrevistou Luciano Gonçalves Leite (gerente de Proteção e Defesa Civil).

 

Quando a Defesa Civil começou a ficar preocupada com o que poderia acontecer?

O primeiro indicador de que teríamos problemas ocorreu em abril, quando choveu apenas 36,5 milímetros. Comparando esta quantidade com a média histórica da Fazenda Citrícola, que é de 68 para aquele mês, observamos que a estiagem tinha se antecipado.

 

Quantos atendimentos contra incêndios foram prestados neste ano?

Não tivemos incêndios nos meses de janeiro e fevereiro. Sozinhos ou em parceria com o Corpo de Bombeiros, debelamos um incêndio em março, dois em abril, 13 em maio, seis em junho, dez em julho e 14 em agosto.

 

Porém, foi neste mês de agosto que a população começou a receber alertas quanto aos riscos de incêndios, sobretudo em determinadas regiões. Isso alarmou vocês?

Sim, mas além destes alertas que a Defesa Civil Paulista emitiu, estávamos acompanhando a Umidade Relativa do Ar (URA) captada pela Estação Meteorológica instalada na Prefeitura. Constatamos que praticamente todos os dias de agosto ficaram abaixo dos 30% de URA, sendo que alguns dias atingiram a 17%. Isso foi um ‘gatilho’ para aumentarmos o monitoramento em áreas mapeadas com o intuito de prestar atendimento da forma mais breve possível.

 

A prontidão aumentou nos últimos dias?

De meados deste mês de agosto, aumentaram consideravelmente os índices de probabilidade de incêndio para a nossa região. Esses dados são disponibilizados pela Defesa Civil Estadual por e-mail. Também temos um grupo de WhatsApp de núcleos de Defesa Civil da nossa região, onde também estão integrantes da Defesa Civil do Governo do Estado.

 

Porém, o que aconteceu foi um terror.

Foi totalmente atípico e assustador. Nos deparamos com um cenário de terror mesmo, destruição da flora, animais mortos ou machucados, ameaças de as chamas atingirem moradias e instalações, enfim, poderia ter sido bem pior.

 

Em quais locais vocês atenderam?

Na sexta-feira (23), por volta das 14 horas, atendemos a um chamado para atuar nas proximidades da bifurcação das Rodovias Brigadeiro Faria Lima e Washington Luís, dali para a divisa com Gavião Peixoto. Combatemos o incêndio, mas devido à proporção, não conseguimos apagá-lo e este fogo consumiu aproximadamente 510 mil m², se extinguindo sozinho. Houve perda de bovinos em uma propriedade e avarias na ponte de madeira sobre o Rio Itaquerê, mas ela está liberada para o trânsito. No sábado (24), por volta das 16 horas, nossa equipe estava junto com o Corpo de Bombeiros, do lado direito da Via Carl Fischer para quem vai de Matão à Rodovia Washington Luís, uns 200 metros adiante da ADS Laboratório, para combater um incêndio grande, mas decidimos fazer isso subindo para uma área acima da antiga pedreira, nas margens da estrada de terra Luís Gonzaga da Silva Leite. Daquele ponto até a Via Carl Fischer, tudo estava em chamas, um cenário desolador que exigiu muitos cuidados, sobretudo devido à quantidade de propriedades rurais e chácaras no entorno. Fizemos aceiros de água para tentar minimizar danos, pois as chamas eram muito altas e o vento estava forte. Fizemos esta cortina e, por sorte, o fogo diminuiu ao sair do canavial para um pasto. Se tudo por ali fosse canavial, o drama seria outro, mesmo contando com o apoio de voluntários. Com esta situação controlada, atendemos a um chamado no Sítio Santa Tereza, que fica na região entre a Rodovia Faria Lima e a Fazenda Aquidabam. O caminhão pipa da Prefeitura e a nossa caminhonete contaram com o apoio do caminhão pipa da Baldan Agro e impedimos o fogo de atingir a parte de alvenaria do Sítio Santa Tereza. O quarto atendimento mais preocupante ocorreu nos arredores de um extinto frigorífico, às margens da Via Carl Fischer. Usamos dois caminhões pipas da Prefeitura e contamos com apoio do caminhão pipa da Citrosuco para apagar o fogo e proteger as edificações próximas, por volta das 23h40. Felizmente, começou a chuviscar naquele momento, sendo que a soma pluviométrica até parar de chover no domingo foi de 20,4 milímetros.

 

Foram situações inéditas?

Sim, pois foram focos de grandes proporções em quatro pontos de áreas rurais, dos quais três distantes um do outro, num curto período de tempo. Saliento que não ocorreram incêndios em matas urbanas ou próximas ao perímetro urbano.

 

Você acredita em incêndios provocamos por ação humana?

A maioria dos incêndios é provocada por ação humana, por negligência ou má fé. Contudo, desta vez, devido a serem incêndios concomitantes, entendo ser necessário uma investigação por parte das esferas competentes.

 

Outros incêndios deverão ocorrer.

Provavelmente. Ainda temos um período de estiagem a enfrentar e a quantidade de chuva em perspectiva não é animadora. Insisto ao solicitar para as pessoas que fiquem atentas e sigam as recomendações da Defesa Civil para áreas rurais: manter terrenos limpos e com aceiros; ter à disposição um reservatório de água acoplado a um trator ou outro veículo para um combate mais imediato ao fogo, além de orientar os caseiros e funcionários para telefonar imediatamente aos números 193 (Corpo de Bombeiros) e 199 (Defesa Civil). Também é importante a disponibilidade de um contato mais ágil entre pequenos proprietários rurais com usinas ou produtores rurais.

 

A legislação quanto à prevenção e primeiros combates a incêndios deverá ser acrescida e se tornar mais eficaz?

Sim. A legislação existe, mas é insuficiente, principalmente se considerarmos este novo cenário que serve como um divisor para o que até então enfrentamos e o que poderemos enfrentar. A fiscalização preventiva deveria ser mais atuante e mais abrangente, assim como as punições. Mais cedo ou mais tarde, acredito que o monitoramento eletrônico digital avançará também na zona rural.

 

Quer fazer agradecimentos?

Para os membros da nossa equipe da Defesa Civil atuantes nestas frentes: Benedito Luiz Lemes, José Carlos Bononi e Reginaldo de Jesus Ribeiro. Também integra a nossa equipe, Paulo César da Silva. Obrigado aos motoristas dos caminhões pipas, Kléber Aparecido de Matos, Éverton Possani e Marcelo Almeida, bem como ao operador da pá carregadeira, Wilson De Gaetano. Muito obrigado ao Corpo de Bombeiros, à Guarda Civil Municipal (GCM) e agentes de trânsito, empresas e voluntários que contribuíram para minimizar danos e sofrimentos nos atendimentos a estas ocorrências.


Fonte: Rogério Bordignon


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