ARTIGO: Em memória de Matão!
POR ROGÉRIO BORDIGNON
- Postado por Natali Galvao |
- segunda, 31 de março de 2025 | 17:48 hs

Rogério Bordignon. "A vontade de Azor era de implantar mais 'Praças da Memória' para homenagear mais famílias"
Foto: Divulgação
Em 1988, eu era aluno do então 2º Colegial na EE ‘Henrique Morato’, a única escola matonense com o Segundo Grau naquele final da década de 1980. Azor Silveira Leite foi até a nossa sala de aula para perguntar quem poderia ajudá-lo voluntariamente a fazer pesquisas para o livro que ele escreveria. Disse que voltaria na próxima semana. Assim fez e ninguém se colocou à disposição. Então, Azor disse, lamentando: “Ah! Deixem para lá! Vocês são assim mesmo, não se interessam pela história, pelo município”. E saiu da sala de aula, entristecido.
Azor lançou seu primeiro livro no dia 27 de abril de 1980, uma obra intitulada ‘Aos Simples’, que reuniu crônicas, contos e outros textos do autor. Na nossa sala de aula, ele queria apoio para fazer o primeiro volume de ‘Uma história para Matão’, lançado no dia 12 de fevereiro de 1992. Posteriormente surgiram os volumes 2, 3, 4 e um livro mais específico sobre aspectos inerentes à Paróquia do Senhor Bom Jesus de Matão. Azor pretendia escrever mais obras, mas não foi possível... Deus o chamou no dia 29 de março de 1995, há 30 anos.
Internado no Hospital ‘Carlos Fernando Malzoni’, Azor sequer viu a inauguração da ‘Praça da Memória 1’, idealizada por ele para eternizar homenagens a 21 famílias que estavam em Matão antes, durante ou logo após a fundação do município no dia 27 de agosto de 1898. Eu estava presente na inauguração daquele ponto de lembrança, constituído dentro da Praça da Abolição, na sua parte mais estreita. O mestre de cerimônia naquela ocasião foi Nelson Marques Martins, então diretor municipal de Saúde.
Representantes das famílias e autoridades inauguraram esta praça, deixando abaixo da base da placa inaugural uma ‘Cápsula do Tempo’ com publicações de Azor, jornais e revistas da época. Lá está, numa página inteira de A Comarca, uma entrevista que fiz em janeiro de 1995 com Azor, sendo que guardava a mesma para ser divulgada na edição número 1 do Jornal Espaço.10.
Contudo, com o agravamento da saúde de Azor e diante do meu desejo de que ele lesse a entrevista, não seria possível esperar o referido primeiro exemplar do jornal que fiz para Sergio e Lizete Floriano (Espaço Matão Comunicações). Levei-a para Paulo Sergio Gabriel publicar em A Comarca. Me disseram que Azor a leu e assim continuo acreditando, 30 anos depois.
Entrevistei ele na sede da Diretoria Regional do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, quando esta era vizinha ao fundo da então Mercearia Nova Matão (atual Supermercado Bom Bife). Atuando como coordenador do Ciesp-Matão, Azor me atendeu na última sala, na direção da Praça da Abolição, a qual tinha uma porta que se abria para um pequeno jardim.
Fizemos aquela entrevista ouvindo alguns pássaros. Foi o meu primeiro contato direto com ele, um momento marcante não somente pelas palavras registradas em A Comarca, mas também pela conversa que tivemos, ensinamentos extremamente proveitosos para um jovem que iniciava a profissão de jornalista com quase 23 anos de idade.
Fiz questão de fazer esta entrevista porque o fato de não ter ajudado a Azor fazer o primeiro volume de ‘Uma história para Matão’ me marcou bastante, pois entrei no curso de Jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp) em 1991 e, com o passar do tempo, me entrelaçando cada vez mais com o Jornalismo Impresso e com o Fotojornalismo, questionei-me algumas vezes sobre o porquê de não ter ajudado Azor. Aquele meu primeiro trabalho profissional teve amplo significado para mim, lembrando que o entrevistei após a conclusão do curso no final de 1994, mas antes da Missa em Ação de Graças, da Colação de Grau e do Baile de Formatura, ocorridos nos dias 17 e 18 de fevereiro de 1995.
Até então, o único membro da família de Azor que eu conhecia ‘de vista’ era o Carlinhos Radaeli, marido da Agnes. Fui conhecer Azorzinho como jornalista, fazendo matéria com ele. E a partir daí, foi sempre ao Azorzinho que me dirigi quando me referia à ‘Praça da Memória 1’, como numa matéria que fiz, publicada por A Comarca no dia 26 de fevereiro de 1999, cujo título foi ‘Praça da Memória está esquecida’, onde mostrei o abandono geral, expondo a ação de vândalos que quebraram placas denominativas das famílias e picharam a placa inaugural.
Naquele mesmo ano, a diretora municipal de Meio Ambiente, Maria Aparecida Bellintani Ourique de Carvalho, solicitou a construção das bases de concreto e a substituição das placas denominativas. Foi a Mariinha, então funcionária da Cambuhy Agrícola, quem providenciou doações de mudas de árvores para a formação da mencionada praça. Daquelas mudas plantadas, uma foi quebrada ou se quebrou ainda em 1995: justamente a árvore plantada para registrar o nome do meu bisavô, Giovanni Bordignon, chamado de João por todos. Walter Jardim, então responsável pelos Serviços Municipais, providenciou o plantio de uma segunda árvore – esta, uma Peroba Rosa.
Mas os vândalos e os ‘amigos do alheio’ teimaram em quebrar ou furtar placas e, assim, a ‘Praça da Memória 1’ passou anos e anos sem alguém que cuidasse novamente dela. Por duas ou três vezes, perguntei ao Azorzinho se ele queria fazer matéria para tentarmos recuperar a praça, mas ele me disse: “Não adianta, Rogério! Não adianta!”. Contudo, passados 30 anos, a ‘Praça da Memória 1’ merecia ser lembrada. Pensando nisso, procurei o Azorzinho e manifestei minha vontade, acrescida pela vontade dele.
Procurei o prefeito Cido Ferrari e este, de imediato, disse que a reinauguração seria feita. O prefeito, na primeira reunião que teve com seu secretariado após esta conversa, informou sobre a decisão dele e nenhum secretário se posicionou de modo contrário. Azorzinho, por sua vez, adquiriu todas as placas denominativas das famílias homenageadas, providenciou a pintura das bases, a instalação delas junto às respectivas árvores e a limpeza ao redor. A Prefeitura se responsabilizou pelas placas maiores, como a recriação da original e a feitura de mais duas, bem como por outros serviços. As placas serão conhecidas amanhã de manhã (sábado, dia 29), quando, 30 anos depois, a ‘Praça da Memória 1’ será reinaugurada.
Ao prefeito Cido Ferrari, muito obrigado! Uma das principais características do senhor é ouvir a população e atender no que for possível. Muito obrigado pelo revigor histórico, pela lembrança às famílias presentes no período da fundação de Matão e, sobretudo, pela memória à Azor Silveira Leite, professor, historiador e escritor que militou em A Comarca de forma cotidiana por praticamente 33 anos, sendo que textos de sua autoria constavam em páginas deste centenário jornal, em intervalos mais dilatados, desde 1955.
Prefeito Cido Ferrari, a vontade de Azor era de implantar mais ‘Praças da Memória’ para homenagear mais famílias que contribuíram com Matão ao longo das décadas, ou ainda contribuem. Seria possível levar adiante o desejo dele? Outro ponto: muito em voga de meados da década de 1990 a meados dos anos 2000, o assunto ‘Arquivo Histórico’ se diluiu, ‘sumiu do radar’.
Contudo, prefeito Cido Ferrari, Matão precisa de um local apropriado para estruturar o seu ‘Arquivo Histórico’. Por que não na Estação Ferroviária e no armazém próximo a ela? Obviamente após a conclusão da reforma de ambos, hoje aguardando a retomada das obras. Muito obrigado, prefeito Cido Ferrari! Mas o resgate histórico de Matão poderá agradecer bem mais ao senhor.
Fonte: Rogério Bordignon é jornalista, fotógrafo e escritor
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