Cultivo: Insistindo no milho
Ricardo Scopelli agrega valor ensacando o milho 'Bela Vista' com dois tipos de quirera
- Postado por Natali Galvao |
- quinta, 24 de abril de 2025 | 10:56 hs

Produção. Tanto dentro da saca como a granel, estando seco, o milho tem de seis a oito meses de armazenamento, sem estragar
Foto: Rogério Bordignon
O levantamento final da cultura de ‘Milho Safra’ (primeira safra) no ciclo 2023-2024 no estado de São Paulo, finalizado e apresentado pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) em junho do ano passado, mostrou o recuo de 21,4% da área em produção – cerca de 65,5 mil hectares – em relação ao ciclo anterior. E que a produtividade do ciclo foi de 6.003 quilos por hectare diante de 6.644 quilos em 2022-2023 (redução de 9,7%), com queda de 29% na produção total.
“Preços pouco atrativos aos produtores e adversidades climáticas explicam a redução. Os maiores volumes de produção são provenientes das regionais de São João da Boa Vista, Itapeva e Itapetininga, com 36% do total da produção de ‘Milho Safra’ no estado de São Paulo”, comenta o engenheiro agrônomo Luiz Manhani, responsável pela Casa da Agricultura ‘Paulino Rossi’, formado pela Universidade Federal de Lavras (Ufla) em junho de 1985.
De acordo com o IEA, o ‘Milho Safrinha’ (segunda safra) também apresenta quedas em todas as variáveis acompanhadas. A área em produção é 12,3% menor em comparação ao ano anterior; a produtividade recuou 13,1%, ocasionando produção total inferior em 23,8%. Três regionais possuem grande expressão na produção de ‘Milho Safrinha’ em terras paulistas: Assis, Itapeva e Ourinhos.
“Em nosso município, a queda de área de plantio e de produtividade do cultivo do milho foi ainda mais acentuada”, afirma Luiz. “Baixos preços recebidos pela saca e adversidades climáticas também explicam, em parte, a queda da área plantada e da produtividade tanto em Matão como no estado. Por nossa região ter grande interesse na produção de soja e amendoim, produtores optaram pelo cultivo dessas culturas”, resume.
PERSEVERANÇA
Um dos produtores que perseveram no cultivo do milho em Matão é Ricardo Luiz Scopelli – filho do saudoso Luiz Carlos Scopelli e de Sônia Schiavetto Scopelli, e irmão de Rosana. Nascido em Matão, no dia 25 de julho de 1977, Ricardo é casado com Fernanda Bordignon Scopelli, com quem tem os filhos Gustavo (estudante do 2º ano do curso de Agronomia na Escola Superior de Agricultura ‘Luiz de Queiroz’, a Esalq-USP, em Piracicaba) e Felipe.
Luiz Scopelli pediu demissão da Baldan em novembro de 1982 e levou a família para o Sítio Córrego Fundo, recebido por herança de seu saudoso sogro Domingos Schiavetto. Em 13 alqueires, Luiz formou 6.000 pés de laranja que se somaram aos 3.000 lá existentes. Aos 6 anos de idade, Ricardo já acompanhava seu pai na roça, mas em 1984, para estudar na EM ‘Adelino Bordignon’, veio morar na cidade com sua avó materna, a saudosa Guilhermina Castellani Schiavetto.
Em 1988, Luiz comprou cinco alqueires no bairro Josefina e cultivou laranja no Sítio Nossa Senhora Aparecida, onde plantou pequena quantidade de milho para consumo dos animais e da família. Aos 10 anos, Ricardo passou a morar novamente com a família, pois esta propriedade era mais próxima à cidade e assistida por ônibus. “Algumas vezes, ‘enforquei’ aula e voltei para o sítio a pé, porque não gostava de estudar”, lembra.
Ricardo iniciou o curso de Técnico Agrícola em 1993, em Cafelândia. Formado, voltou ao convívio familiar e, ainda no final de 1995, formou uma roça de milho maior. “Decidi plantar milho durante o período de reforma dos pomares, de setembro a abril, mantendo este padrão até 2008, ano em que o milho ganhou terreno da laranja, dividindo a área do sítio com ela. Nesta mesma época, a produção da cana-de-açúcar expandia em outra propriedade nossa, o Sítio São João”, cita.
A rotação de culturas do milho com a soja começou por lá em 2013, e a laranja foi sumindo de cena. Hoje, o Sítio São João tem 100% de produção de cana; no Nossa Senhora Aparecida são 20 alqueires na rotação de milho e soja. “O Gustavo começou a me ajudar quando tinha 12 anos, mas parou ao ingressar na Esalq-USP no início de 2024. O Felipe passou a dividir seus afazeres no sítio e na Escola ‘Adelino Bordignon’, aos 11 anos. Ele cursa o 7º Ano do Ensino Fundamental”, conta Ricardo.
O plantio da soja ocorre em outubro e novembro, com colheita no final de fevereiro, início de março, sendo que imediatamente começa o cultivo de milho para colheita em julho e agosto. O produtor utiliza o milho híbrido das marcas Dekalb, Pioneer, Limagrain, Brevant, pois elas oferecem sementes com alto teor de germinação, bom potencial produtivo e são tolerantes à praga Cigarrinha.
AGREGANDO VALOR
Até 2012, Ricardo somente vendeu grãos para armazéns, granjas e fábricas de ração. A partir de julho de 2012, passou a guardar a produção em barracão e a vendê-la ensacada contendo sementes normais e dois tipos de quirera, agregando valor. Os destinos diretos do milho ‘Bela Vista’ – marca da produção de Ricardo – são lojas agropecuárias e estabelecimentos do segmento de alimentação animal que comercializam rações em quatro municípios: Matão, Dobrada, Araraquara e Gavião Peixoto.
Segundo Ricardo, para plantar e cuidar do milho ou outra cultura, “tem que ter paixão. Exige acordar bem cedo, dominar conhecimentos para o plantio, para a manutenção de um solo fértil, bem preparado, acompanhando sempre os índices pluviométricos. Preguiça não existe no vocabulário do homem do campo. Não há dia certo para se plantar milho, pois a melhor data pode ser um feriado, um domingo, após uma boa chuva, aguardando outra chuva”.
“O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela água, temperatura e radiação solar. A cultura do milho necessita que os índices dos fatores climáticos, especialmente a temperatura, a precipitação pluviométrica e a luminosidade atinjam níveis considerados ótimos para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo”, sintetiza Luiz Manhani.
Segundo Ricardo, até 2010, o milho era considerado a principal cultura de muitas propriedades e era plantado como ‘Milho Safra’ e ‘Milho Safrinha’. “De 2010 para cá, na maciça maioria das propriedades que tinham duas safras, ficou somente o ‘Safrinha’, cujo preço apresenta oscilação de uns 30% entre o valor mínimo e o valor máximo, dependendo das condições climáticas. Tanto dentro da saca como a granel, estando seco, o milho tem de seis a oito meses de armazenamento, sem estragar”, relata.
“De três anos para cá, o milho está perdendo espaço para o sorgo, por este apresentar ultimamente um custo-benefício melhor. Se não houver um combate eficiente para o controle da Cigarrinha, o milho tende a perder mais espaço para o sorgo; pois, há dez anos, uma saca de sorgo valia 50% do preço de uma de milho; hoje, o índice desta mesma saca de sorgo para a de milho é de 75%. Contudo, continuarei insistindo no milho até quando for possível”, afirma Ricardo, que se classifica como produtor de pequeno porte. Entre os desta categoria em Matão, ele é o único com dois silos para armazenagem, que estão dentro de um barracão. É de lá que sai ensacado o bom milho ‘Bela Vista’.
Fonte: Rogério Bordignon
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