/** PIXELS **/ /** PIXELS **/ A Comarca | Mercado: Café atinge maior preço em 50 anos


Mercado: Café atinge maior preço em 50 anos

Apesar das adversidades climáticas e econômicas, cafeicultura é considerada lucrativa e atrai produtores


Nos últimos meses, muitas notícias sobre a alta no preço do café foram veiculadas. Entre os motivos estão os problemas climáticos – responsáveis pela redução da oferta –, o forte ritmo das exportações e a desvalorização do real frente ao dólar. Especialistas e pesquisadores informam que novos reajustes são esperados em 2025. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), o ano será desafiador não apenas para a cafeicultura no Brasil, mas também no mundo. A curto prazo, não estão previstos aumentos significativos de produção e estoques, e a demanda deve continuar a crescer.

Diante de um cenário desfavorável, encontramos em Matão alguns poucos agricultores que persistem na cafeicultura. Um exemplo é Alcides Comunhão (62 anos), que prossegue com o legado deixado pelo pai, Luiz Comunhão (falecido em 2011). Essa história tem início em 1959 quando Luiz, assim como outros agricultores, adquiriu um lote da extinta Companhia dos Ingleses e plantou 10 mil pés de café.

“Houve uma época em que a cidade de Matão e seus arredores eram completamente tomados por cafezais”, conta. Atualmente, ‘Li Comunhão’ – como é conhecido – possui 50 mil pés de café, em 22 hectares de um sítio próximo a Matão. “Durante 15 anos, investi na citricultura; porém, com o greening, ela se tornou inviável. Como já possuía o conhecimento no plantio e manejo do café, voltei a investir nessa cultura”, revela Alcides, que optou pelas espécies arábicas Novo Mundo e Ipar.

O estoque baixo de café é resultado da falta de chuvas e muitos produtores precisaram adotar técnicas para a manutenção das lavouras, aumentando os custos com a produção. O café é colhido uma vez por ano no Brasil, entre os meses de maio e julho; no entanto, o ciclo de produção é bianual, ou seja, o pé produz mais em um ano e menos no outro.

“Colhe-se primeiro o Novo Mundo e, após 60 dias, inicia-se a colheita do Ipar. Para garantir uma boa safra precisa chover bem no mês de agosto, mas, no ano passado, a chuva veio em novembro. Não teve florada”, diz. Em uma outra parte da plantação encontram-se os talhões em recuperação, pois as plantas foram cortadas em novembro por estarem secas. O produtor acredita que, no próximo ano, as plantas já recuperadas possam florescer e aumentar a produção. Sua estimativa para este ano é de 200 sacas (café em coco), muito abaixo da média.

As pragas e doenças que aparecem junto com as altas temperaturas também aumentam os gastos com a produção. “O que mais afeta o cafezal são a ferrugem, as brocas e principalmente o clima – temos seis meses de estiagem. Apesar das dificuldades, considero a cafeicultura um excelente negócio. Você pode armazenar o café que não perde e vender aos poucos. Mas pela falta de chuva e pelo calor excessivo, ninguém se arrisca a cultivar aqui na região. A colheita é difícil, não tem mão de obra e os pequenos produtores não têm recursos para investir em tecnologia. Em Minas Gerais, tudo é diferente e muito mais fácil”, conclui Alcides.

 

PRODUÇÃO ARTESANAL

 

Na região Sul de Minas são produzidos cafés de alta qualidade que são cada vez mais conhecidos e valorizados no mercado – nacional e internacional. De acordo com a Associação Brasileira de Cafés Especiais (Abic), os fatores responsáveis por isso são principalmente o clima (com temperatura entre 18 e 20 graus), o relevo (com altitudes de até 1.400 metros) e a produção artesanal. Dessa forma, a região tem atraído cafeicultores de outros estados do país que buscam alto nível de produção.

Com a experiência adquirida após anos de trabalho em uma grande exportadora de café, em Varginha (sul de Minas Gerais), Edmilson Crippa criou vínculos com produtores e cooperados das mais variadas regiões. Retornando ao Interior Paulista, trouxe todo seu conhecimento sofre café e, juntamente com a esposa Ana Lúcia Appoloni Crippa e os filhos Rodolfo e Isabela, realizou o sonho de possuir uma torrefação própria. O cultivo e o beneficiamento dos cafés são realizados por terceiros nas cidades sul-mineiras. As sacas de café cru são trazidas para Matão, onde o processo de produção é finalizado artesanalmente com a torra e o empacotamento dos grãos torrados e do café moído.

“Utilizamos cafés 100% tipo Arábica e nossos fornecedores são da região de Varginha, Três Pontas, Três Corações e Machado. O café cru é transportado para a torrefação em Matão. Os grãos são selecionados e separados das impurezas, torrados na temperatura certa (400 a 420 graus) para cafés gourmet e especial, que apresentam em uma torra mais clara que a do café tradicional, possibilitando sentir melhor as notas. Temos uma linha de cafés mais escuros, o ‘café da roça’ para atender alguns clientes”, explica Ana Lúcia. Após a torrefação, o café segue direto para o resfriador; depois de totalmente frio, ele é acondicionado em dispensers para ser empacotado moído ou em grão.

Edmilson explica que “um bom degustador identifica as notas sensoriais e classificação quanto a doçura e acidez; dependendo do apreciador é possível sentir notas de caramelo, chocolate, frutas vermelhas ou cítricas e cana-de-açúcar, por exemplo. O café especial tem uma pontuação mais acentuada, já o café fermentado por indução pode interferir nas notas e influenciar o sabor e a qualidade da bebida”.

A Quinta do Café comercializa seis linhas: Natural, Encorpado, Moca, Blend, Cereja descascado e Bourbon amarelo. “Os dois últimos são diferenciados com doçura mais acentuada”, cita o proprietário do estabelecimento (Avenida Padre Nelson Antônio Romão, nº 445), cujos produtos também são encontrados nos supermercados Mortari e Bom Bife e no Delices Emporium Café.


Fonte: Mariluci Schiavetto


  • Compartilhe com os amigos:


Deixe um comentário



Comentários