Padre Osvaldo Pereira assume a Paróquia Senhor Bom Jesus
Sacerdote retorna a Matão após 17 anos, agora para liderar a comunidade católica do Centro
- Postado por Natali Galvao |
- sexta, 11 de abril de 2025 | 09:18 hs
O padre Osvaldo Pereira. "Vivemos em tempos nos quais o senso de amor, justiça e paz tem se perdido, e espero que nossa comunidade paroquial seja um verdadeiro testemunho de fraternidade"
Foto: Natali Galvão
A Paróquia Senhor Bom Jesus recebeu, no dia 2 de março, o seu novo pároco: o padre Osvaldo Gonçalves Pereira. Aos 61 anos, o sacerdote natural de Ibitinga retorna a Matão após 17 anos, trazendo sua experiência pastoral para liderar a comunidade católica do Centro. Ordenado em 1989, ele tem uma trajetória marcante na cidade, onde atuou como vigário na Paróquia Nossa Senhora Aparecida (Bairro Alto) e foi o primeiro pároco da Paróquia São Sebastião (Jardim Paraíso). Em entrevista, o padre Osvaldo fala sobre sua nova missão, os desafios e os planos para a paróquia.
Como foi receber a notícia de sua transferência para Matão?
Foi uma surpresa muito agradável. Estive aqui pela primeira vez quando tinha 33 anos. Passei cerca de 12 anos em Matão, sendo um ano e nove meses como vigário na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no Bairro Alto; posteriormente, fui para o Jardim Paraíso, onde me tornei o primeiro pároco da Paróquia São Sebastião e permaneci por lá durante mais 10 anos. Foi um período muito especial, de aprendizado e crescimento espiritual. Agora, 17 anos depois, retorno para Matão a pedido do bispo diocesano, Dom Luiz Carlos Dias.
O que mudou desde aquela época?
Naquela época, o Jardim Paraíso era bastante isolado do restante da cidade, com pouca infraestrutura. Com o tempo, tudo foi se desenvolvendo. Hoje, o bairro está totalmente integrado à cidade. Foi uma transformação significativa e positiva para a comunidade. A criação da Paróquia São Sebastião teve um papel fundamental nesse desenvolvimento, contribuindo para fortalecer a comunidade.
Depois de 14 anos à frente da Paróquia São Sebastião em Araraquara, como foi a despedida daquela comunidade?
Foram muitos anos de dedicação e, naturalmente, a despedida foi sentida tanto por mim quanto pela comunidade. Durante esse período, realizamos um trabalho muito bonito na região da Vila Xavier e Jardim Brasil. A Paróquia São Sebastião abrangia diversas comunidades, incluindo a matriz e capelas como São Paulo Apóstolo, Arcanjo São Miguel, Gabriel e Rafael, além da comunidade Rainha da Paz, no Parque São Paulo. A saída sempre traz um sentimento de saudade, mas agora me deparo com uma nova realidade em Matão. A cidade continua a mesma, mas as pessoas mudaram. O tempo passa para todos nós. Como diz a expressão em latim: ‘tempus fugit’, o tempo voa.
A Paróquia Senhor Bom Jesus é a mais antiga de Matão, com 127 anos. Como é assumir o seu comando?
É uma grande responsabilidade, pois se trata de uma paróquia histórica. Neste ano celebramos o centenário da Festa do Senhor Bom Jesus, e já estamos nos organizando para esse evento tão significativo. Matão é uma cidade marcada por tradições religiosas, como a celebração de Corpus Christi, que envolve diversos setores, como a Educação e a Cultura. Além disso, sou o 31º pároco dessa paróquia, que tem um legado construído por grandes nomes, como o monsenhor Nelson Romão, o monsenhor Amador Romão, o padre Marcos Pião e o padre Jorge Nahra. Estamos vivendo o Ano Jubilar da Esperança, um período especial que ocorre a cada 25 anos na Igreja. Na Diocese de São Carlos, apenas três igrejas foram designadas pelo bispo como jubilares, e a Paróquia Senhor Bom Jesus de Matão é uma delas. Isso reforça ainda mais nossa missão.
Quais são os principais objetivos à frente da paróquia?
Meu principal objetivo é a formação espiritual e pastoral da comunidade. Quero incentivar a catequese, o engajamento missionário e a participação ativa dos fiéis na vida da Igreja. Além disso, busco fortalecer os laços entre os paroquianos, promovendo a interação e a vivência do Evangelho.
Quais desafios o senhor já identificou desde que chegou?
Um dos principais desafios é promover um diálogo aberto e incentivar as pessoas a se aproximarem cada vez mais do Evangelho. Matão tem uma comunidade tradicional, mas é importante estar sempre aberta às novas realidades e desafios da fé.
Como o senhor enxerga o papel da Igreja Matriz na comunidade matonense?
A Paróquia Senhor Bom Jesus é a igreja mãe de Matão, pois dela surgiram todas as outras comunidades da cidade, como Nossa Senhora Aparecida, Santa Cruz e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Seu papel é acolher todos os fiéis, sejam eles antigos ou novos, além de promover o diálogo com outras religiões. A função de uma Igreja Matriz é ser um ponto de referência e unidade para a comunidade.
Como a paróquia pode ajudar a fortalecer a fé em tempos difíceis?
O testemunho de vida dos fiéis é essencial. Como se costuma dizer, “as palavras convencem, mas o testemunho arrasta”. Quando as pessoas vivem sua fé através de ações concretas, como a solidariedade e o compromisso com os mais necessitados, a comunidade se fortalece. A fé precisa ser traduzida em obras.
Como o senhor enxerga a atual participação dos jovens na igreja?
É um grande desafio, pois hoje os jovens são muito influenciados pelo mundo digital. No entanto, fiquei encantado ao ver a participação ativa dos jovens na paróquia, especialmente durante as ‘24 horas para o Senhor’, um momento de oração contínua realizado entre os dias 28 e 29 de março. Eles estavam presentes até de madrugada, demonstrando que há espaço para a espiritualidade na vida dos jovens. O desafio é continuar incentivando essa participação.
O senhor tem uma trajetória pastoral de 36 anos. Que aprendizados dessa longa caminhada pretende trazer para a paróquia?
O mais essencial, na minha visão, é permitir que Deus seja Deus. Isso é fundamental, pois somos humanos, falhos e pecadores. Quando deixamos Deus ser Deus, tudo flui, tudo acontece. Não temos todas as respostas, não somos os senhores absolutos da palavra, mas contamos com a graça divina. Ao longo desses 36 anos, aprendi a importância de parar, silenciar, escutar e discernir o que Deus quer para cada pessoa, cada realidade, cada situação, cada família, cada grupo social e cada desafio. Vivemos em um mundo onde o querer humano prevalece, mas falta espaço para a vontade divina. E o que significa a vontade divina? Significa estar aberto à escuta profunda – da vida, das pessoas, das dificuldades, das esperanças. Acredito que este seja um tempo para permitir que a graça flua, para que Deus seja Deus. Isso é essencial. Nos últimos anos, aprendi essa lição com ainda mais intensidade, a ponto de escrever um livro sobre o tema. Já publiquei quatro livros e, no mais recente, reuni o testemunho de 114 pessoas que compartilharam como permitiram que Deus agisse em suas vidas. Esse livro, cujo título é justamente ‘Deixa Deus Ser Deus’, nasceu dessa coletânea de experiências.
Como o senhor imagina a paróquia nos próximos anos?
Imagino uma paróquia cada vez mais ativa, sensível à realidade, aberta aos desafios e atenta aos mais necessitados. Quero que ela seja um espaço onde as pessoas possam olhar e dizer: ‘Vejam como se amam’. Que esse amor esteja presente nas pastorais, nos grupos, nos movimentos, nos jovens, nas crianças, na catequese, nos adultos. Vivemos em tempos nos quais o senso de amor, justiça e paz tem se perdido, e espero que nossa comunidade paroquial seja um verdadeiro testemunho de fraternidade; como nas primeiras comunidades cristãs, onde aqueles que as observavam diziam: “Vejam como eles se amam”. Esse é o meu desejo para a paróquia.
Fonte: Natali Galvão - free lancer
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