/** PIXELS **/ /** PIXELS **/ A Comarca | Abandono afetivo parental: vazio emocional e reflexos


Abandono afetivo parental: vazio emocional e reflexos

POR MAIARA ESSI E FABRÍCIO ZAFALON

Abandono afetivo parental está relacionado à falta de afeto, atenção e cuidado dos responsáveis legais a uma pessoa que seja considerada vulnerável
Foto: Divulgação

Após ouvir de um estudante a frase: “Quero ver pegar meu pai na reunião. Ele nunca vem não!”, refletimos sobre quanto sentimento continha em cada fonema dito por aquela voz vacilante. Não era uma criança! Trata-se de um jovem do Ensino Médio, com nível social que se enquadra na classe média, que possui um smartphone, tênis de ‘marca’, frequenta clubes, festas e eventos… Porém antes, um filho.

O abandono afetivo parental está relacionado à falta de afeto, atenção e cuidado dos responsáveis legais a uma pessoa que seja considerada vulnerável, seja menor ou não, pois há casos de pessoas com transtornos e deficiências que a lei reconhece a necessidade de um acompanhamento, ou mesmo idosos que também o sofrem pelo abandono afetivo da família que ajudou a formar. 

É um tema muito debatido no Direito, pois tem gerado centenas de ações por danos morais, principalmente, após um caso ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) em 2022, com ganho de causa para a filha abandonada afetivamente pelo pai, aos seis anos de idade.

Superando as imposições jurídicas, é preciso antes considerar que o ser humano é um ser social, como já apontava Aristóteles há mais de dois mil anos. Somos animais gregários, isto é, demandamos da convivência com pares para nos constituirmos enquanto humanos em processos de socialização. Melhor, socializações: primária, advinda da família; e secundárias, no contato com outras instituições sociais, como escola, organização religiosa, círculo de amigos e trabalho, por exemplo.

No contexto da infância, todo abandono é percebido e sentido. Portanto, mesmo que a criança seja amparada por um de seus genitores, a negligência do outro pode ‘latejar’ e causar traumas de aceitação que atingem a autoestima. Afinal, a função sóciodinâmica sobre a educação absorve a influência, também, das ausências.

Já no campo educacional, embora os efeitos do abandono parental sejam efetivos, não parece que o problema ultrapasse os muros da escola. Para os educadores, é notável a importância que o acompanhamento familiar desempenha no rendimento dos estudantes. Longe de ousar análises psicológicas generalizantes mas, sim, na empiria da prática pedagógica, percebemos dificuldades emocionais e problemas de comportamento, que podem ser desencadeados por lacunas no sentido pessoal que a criança atribui ao conhecimento escolar.

Nesse sentido, ainda que a sociedade reconheça o papel social da escola, é necessário que o estudante internalize esse sentido para si para que a aprendizagem se efetive. E é nesse momento que a família pode atuar de maneira integrada: participar da vida escolar, promover diálogos acerca dos interesses e necessidades relacionados a seu cotidiano, acompanhar os percalços que circundam nessa etapa tão importante - e desafiadora - para seu desenvolvimento cognitivo e emocional.

A escola é considerada o segundo círculo social, porém, não substitui o primeiro, que é a família. A função institucional da escola é promover os saberes científicos, a cultura e a cidadania. Mas quando a base emocional de uma criança apresenta fissuras em sua autoestima, o desafio da educação formal torna-se um obstáculo que necessita de toda a rede protetiva. 

A instituição pode auxiliar a família nos encaminhamentos para os atendimentos especializados disponíveis, porém, poucas vezes isso ocorre no mesmo local onde a criança estuda. Ou a família não reconhece que o problema requer tamanha atenção. 

Torna-se fundamental que os pais entendam que não estamos falando de pensão alimentícia, já instituída em lei há décadas, punida até mesmo com prisão. O caso é emocional! Estreitar vínculos, demonstrar interesse pela vida escolar dos filhos, fortalecer sua autoestima em seus acertos e ser suporte nas dificuldades. Enfim, fazer-se presente verdadeiramente na vida cotidiana dos filhos traz segurança, proteção e apoio, que serão propulsores de um desenvolvimento emocionalmente saudável. 

 


Fonte: Maiara Coroquer Essi e Fabrício Aparecido Zafalon, professores de Ciências Humanas


  • Compartilhe com os amigos:


Deixe um comentário



Comentários