Dois mestres deram o norte para A Comarca
Fidelidade aos princípios e conceitos jornalísticos defendidos por Habib Gabriel e Azor Silveira Leite é fator primordial para o Jornal chegar ao seu Centenário
- Postado por Natali Galvao |
- sábado, 04 de janeiro de 2025 | 13:48 hs
Habib Gabriel e Azor Silveira Leite. Além de atuarem na direção de A Comarca por mais de 30 anos, o empresário e o historiador deixaram notáveis contribuições para o desenvolvimento econômico, social
Foto: Arquivo A Comarca
No início de setembro de 1962, Habib Gabriel e Azor Silveira Leite adquiriram o Jornal A Comarca (juntamente com os sócios Benedito Calari e José Cândido Ferreira) e passaram a nortear a linha editorial deste veículo de comunicação – até meados da década de 1990. Cerca de 30 anos depois, nesta Edição Histórica comemorativa ao Centenário de A Comarca, prestamos nossa homenagem a estes dois grandes mestres, cujos legados de honra, caráter, dignidade e humanismo permanecem vivos na história de Matão.
Esta notável efeméride também pode ser definida como a coroação dos princípios e conceitos jornalísticos defendidos por Azor Silveira Leite e Habib Gabriel, baseados na responsabilidade com a informação, cuja fidelidade é mantida até os dias atuais e se constitui como fator primordial para A Comarca chegar ao seu Centenário. Porém, acima de suas firmes convicções na condução deste veículo de comunicação, os dois diretores deixaram inestimáveis contribuições para o desenvolvimento econômico, social e cultural de Matão.
UM GRANDE EMPREENDEDOR
Habib Gabriel nasceu em São Paulo, no dia 22 de fevereiro de 1924, filho de Hassib Gabriel e Helena Garaib Gabriel. Em 1932, veio com a família para Matão, passando a residir na Avenida 15 de Novembro, nº 1.117. Estudou no Grupo Escolar de Matão, a atual EE ‘José Inocêncio da Costa’, onde fez o curso primário. Em seguida, passou a cursar o ginasial no antigo Anglo Latino e, logo após, fez o colegial em Araraquara. Em 1947, aos 23 anos, retornou a São Paulo e montou na Vila Mariana, onde também residiu, um bazar para comercializar presentes e artigos escolares. Ainda em São Paulo, formou-se químico industrial pelo Liceu ‘Eduardo Prado’. Casou-se com Sylvia Rossi em Matão, no dia 12 de fevereiro de 1950, e continuou a trabalhar no bazar em São Paulo, já começando a desenvolver seu aguçado tino comercial.
Fascinado pela arte cinematográfica e, em especial, por publicações como histórias em quadrinhos e periódicos, retornou a Matão em 1957 e deu início ao sonho de construir o Cine Yara. A duras penas e com muito trabalho, inaugurou o cinema no dia 7 de fevereiro de 1959, luxuosamente decorado com motivos indígenas, constituindo-se numas das principais casas de espetáculos da região. Sua grande capacidade de iniciativa, que o caracterizou por toda a vida como um empreendedor nato, já despontava quando acompanhava as obras no cinema e, ao mesmo tempo, se dedicava ao ramo de construções em geral, tendo edificado várias casas populares na rua que dá acesso para a saída Matão-Dobrada, nas imediações do pontilhão sobre os trilhos da Fepasa, na Vila Guarani.
Em setembro de 1962, em sociedade com Azor Silveira Leite, Benedito Calari e José Cândido Ferreira, adquiriu o Jornal A Comarca, até então pertencente aos irmãos Augusto e Ítalo Ferreira, e a gráfica impressora deste semanário, denominada na época como Typographia Artística e, posteriormente, Indústria Matonense de Artes Gráficas (‘Imag’). Com o tempo, adquiriu as partes de seus sócios e foi diretor de A Comarca por mais de 30 anos. Responsável pela gestão financeira e comercial, Habib Gabriel foi, ao lado do filho Paulo Sergio Gabriel, o grande responsável pelo desenvolvimento do jornal, tanto na definição da linha editorial quanto na modernização do maquinário gráfico.
Em meados da década de 1980, enveredou por pouco tempo no ramo de confecções ao montar a ICEL - Indústria de Artigos Esportivos. Também instituiu a HG - Planejamento e Construções, que edificou os Conjuntos Habitacionais ‘José Garaib’ e ‘Hassib Gabriel’ no Bairro Alto. Além das atividades profissionais, desenvolveu diversos trabalhos sociais no município, sempre com a participação e incentivo de sua esposa Sylvia, e pertenceu ao Lions Clube de Matão, chegando a ocupar vários cargos na diretoria do clube de serviços, sendo presidente em duas oportunidades, presidente de Divisão e vice-governador do então Distrito L-5. Também foi presidente da Festa do Padroeiro – Senhor Bom Jesus de Matão, pertenceu à diretoria da Apae-Matão e foi vice-presidente do Estoril Tênis Clube, time de basquete da cidade, arcando com as despesas da equipe em seu último ano de atividade.
Habib Gabriel faleceu aos 69 anos, no dia 17 de novembro de 1993, no Hospital ‘Carlos Fernando Malzoni’, deixando a esposa Sylvia Rossi Gabriel, o filho Paulo Sergio Gabriel, a nora Maria de Fátima Radaeli Gabriel e os netos Paulo Sergio Gabriel Filho (atual diretor e editor de A Comarca), Rogério Luís Gabriel, João Marcelo Gabriel e Maria Sylvia Gabriel. Deixava ainda os irmãos Renê Gabriel, Roberto Gabriel e Solange Martins Comar. O fato de conhecermos sua intensa atividade profissional, caracterizada pela personificação da imagem de um autêntico empreendedor, ainda não nos possibilita termos a real dimensão de sua grandeza como ser humano. Na verdade, Habib Gabriel deixou como legado o seu caráter correto, a dignidade de suas atitudes, a bondade estampada em seus gestos e a intacta hombridade que o fizeram, acima de tudo, uma pessoa muito especial.
UM HISTORIADOR PARA MATÃO
Azor Silveira Leite nasceu em Matão, no dia 27 de outubro de 1927, filho de Anésio Silveira Leite e Maria Natalina Lucca. Quando jovem, após se formar no Magistério, lecionou em Pereira Barreto e Votuporanga, até voltar a Matão para integrar o corpo docente e assumir a direção da então Escola Normal e Ginásio Estadual ‘Prof. Henrique Morato’.
Desenvolveu um trabalho de enorme envergadura assistencial ao menor, chamando a atenção de organismos internacionais como a Unicef (órgão da ONU), que enviou uma delegação a Matão para se inteirar do programa aqui desenvolvido. Cristão dedicadíssimo às causas da Igreja Católica, trabalhou entusiasticamente nos Cursilhos de Cristandade, TLC e PLC por toda a região, emprestando também sua eloquente e vibrante oratória ao Serra Clube, entidade da Igreja que trabalha pelas vocações religiosas. No dia 12 de fevereiro de 1955, casou-se com Zilda Rossi, com quem teve os filhos Azor Silveira Leite Filho e Agnes Silveira Leite Radaeli.
Desde setembro de 1962, quando adquiriu o Jornal A Comarca juntamente com o cunhado e “compadre” Habib Gabriel (como o chamava), norteou por mais de 30 anos a linha editorial deste “teimosíssimo jornal de interior”, como carinhosamente se referia. De temperamento sincero e franco, Azor muitas vezes defendia seus pontos de vista com intransigência, às vezes até com certo radicalismo, traços marcantes de seu caráter idealista. Em 1968, se candidatou a prefeito de Matão, mas não se elegeu.
Compartilhando conhecimentos, atuou no Sindicato Rural de Matão, orientando os produtores em suas lutas. Trabalhou também na Usina Açucareira Santa Luiza e na Baldan Implementos Agrícolas, onde desenvolveu trabalho assistencial na área de Recursos Humanos. Também prestou relevantes serviços no escritório do Ciesp-Matão. Em reconhecimento à excelência de seu trabalho educacional e assistencial, o sistema Fiesp-Ciesp homenageou postumamente o jornalista, professor e historiador com a denominação do Centro de Atividades do Trabalhador (CAT-Sesi) ‘Prof. Azor Silveira Leite’.
Porém, o trabalho que mais entusiasmou Azor foi realizado nos seus últimos anos de vida: o resgate da história de Matão. Para tanto, fundou a Associação Cultural Novos Autores de Matão (Acunam) e deu início ao grande legado de escrever a história do município. Se deparando com todo tipo de dificuldade, tanto para a realização das pesquisas quanto no aspecto financeiro, Azor produziu uma obra literária que se tornou referência para gerações de matonense: os três volumes de ‘Uma História Para Matão’, lançados pouco tempo antes de seu falecimento em 29 de março de 1995, aos 67 anos, no Hospital ‘Carlos Fernando Malzoni’.
Fonte: Sergio Gabriel
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