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ARTIGO: Psicoterapia e resistências

POR MARIA SYLVIA GABRIEL

Maria Sylvia Gabriel é psicóloga
Foto: Divulgação

A psicoterapia exerce papel crucial e eficaz para a promoção de autoconhecimento, resoluções de conflitos e de transtornos mentais. Livros e artigos acadêmicos em psicologia, assim como livros de autoajuda, não substituem a psicoterapia como instrumento de cura. Durante a psicoterapia, a mudança ocorre devido ao vinculo e conexão entre terapeuta e paciente.

Além de um excelente embasamento teórico, o psicoterapeuta tentará estabelecer vínculo de confiança e carinho com seu paciente, e a partir deste vínculo, o paciente reviverá – através da figura do terapeuta – suas emoções infantis (de amor ou hostilidade), ou seja, emoções que foram vivenciadas com seus pais ou cuidadores na sua infância. Manejando a parte teórica presente nos livros, e também as emoções do paciente, o terapeuta poderá intervir de maneira eficaz e sensível na vida do indivíduo que o procurou.

A psicoterapia demanda tempo indeterminado (pois o tempo varia de caso para caso) para que se estabeleça um bom vínculo afetivo entre terapeuta e paciente, para que o terapeuta conheça bem o indivíduo e sua história, e também para que ele possa realizar intervenções oportunas (sempre respeitando o ritmo de cada pessoa atendida).

Porém, neste mundo globalizado, que tem como característica ser veloz e superficial, muitos supõem que encontrarão na psicoterapia uma cura rápida e indolor. Chamamos de resistência a dificuldade que o paciente encontra em se aprofundar cada vez mais em si próprio, e também de aderir ao processo terapêutico.

Quando o paciente relata algo ao terapeuta, ele se vê obrigado a se escutar, sendo que se escutar pode ser doloroso ou reconfortante. Repetir diversas vezes uma determinada situação ao terapeuta faz com que o paciente, dentro e fora da terapia, pense sobre ela e a supere.

Geralmente, os pacientes resistentes ao tratamento nos procuram quando ocorre um fato insustentável em suas vidas, mas, na verdade, estes fatos escondem raízes emocionais inconscientes, que caminham com esses indivíduos há muitos anos, sendo impossíveis de se curarem rapidamente e sem que doam, aliás, a baixa tolerância à frustração é outro mal da sociedade moderna.

Pacientes resistentes à terapia podem não confiar que a psicoterapia possa trazer-lhes benefícios significantes em relação aos seus problemas (talvez seja porque a psicologia foi estigmatizada como uma simples conversa, ou também como ‘coisa de louco’), além de desacreditarem nos seus próprios potenciais de cura (os potenciais do paciente).

O papel do psicoterapeuta é ser ético, competente, humano e sensato; e o papel do paciente é escolher um terapeuta que lhe inspire confiança e conexão afetiva, não se apressar permitindo que o terapeuta o conduza, e ‘mergulhar de cabeça’ na sua própria história para poder ‘escrever’ a continuidade dela de forma satisfatória para ser vivida.

Tudo o que vale a pena exige esforço contínuo, dá trabalho, às vezes cansa, desanima e entristece, porém, se não exigisse esforço, se não tivesse que passar por bons e maus momentos, não teria valor, não teria a menor graça. Freud dizia que “os melhores dias foram aqueles que lutaste”; ele também dizia “sou um afortunado, na minha vida nada foi fácil”. Tenho que admitir que estas frases são de profunda sabedoria.

 


Fonte: Maria Sylvia Gabriel - psicóloga (CRP: 95748)


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