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Olimpíadas de Inverno: com tensão, norte-coreanos quebram o clima e dão as mãos aos sul-coreanos

A segurança foi reforçada e houve empurra-empurra entre a imprensa em busca de um registro


O clima era estranho. E não estamos falando do tempo. O sol até ajudou a amenizar o frio nesta quinta em Gangneung. A revista excessiva e as muitas recomendações entregavam que não era uma cerimônia de boas-vindas como as outras tantas desta Olimpíada. Centenas de jornalistas, fotógrafos e voluntários lotaram a zona internacional da Vila dos Atletas da costa, que minutos antes estava praticamente vazia ao receber a delegação da Malásia. A expectativa era grande em torno da chegada da Coreia do Norte. Do início ao fim, tensão, poucas palavras, mãos dadas e festa.

Há uma semana a imprensa tenta uma palavra dos atletas norte-coreanos que já treinam em PyeongChang. Até agora, nada feito. Horas esperando à toa. A tensão no ar só aumenta, já que nas últimas semanas seguidos protestos dos sul-coreanos contra a presença dos vizinhos do norte chamaram a atenção em Seul, inclusive antes do amistoso entre Suécia e a seleção unificada das Coreias no hóquei feminino.

Tensão no ar

Ao primeiro sinal da presença dos norte-coreanos um enxame se moveu de um lado para o outro. Era o momento esperado. Todos tentando um registro. Uma foto. Um vídeo. Uma declaração. Perfilada, a delegação esperou calmamente que o tumulto se dissipasse. Foi escoltada para conseguir chegar ao ponto exato para a cerimônia de boas-vindas. Havia mais pessoas do staff que os 22 atletas do país que representação a Coreia do Norte e a bandeira unificada das Coreias. Além disso, uma banda marcial com cerca de 50 mulheres também veio do norte para a festa.

Cinegrafistas, fotófrafos e celulares apontavam para o mesmo lugar. Cada movimento chamava a atenção. Representantes dos dois países trocaram presentes e palavras de gentileza. O hino era entoado enquanto a bandeira do Norte subia - um fair play olímpico no Sul, já que é crime com pena de até sete anos de prisão para um sul-coreano exaltar a bandeira do vizinho em solo nacional.

Quebrando o gelo

Apesar da troca de elogios, a tensão ainda pairava no ar. As apresentações culturais começaram, e os norte-coreanos continuavam impassíveis. Artistas sul-coreanos se apresentavam e nem um sorriso era perceptível. Até que as palminhas começaram a bater. A música foi soltando os corpos ainda presos, e a performance se misturou às fileiras de representantes do norte. Ainda tímidos, deixaram a foirmação militar e formaram uma roda. Aplaudiram. Dançaram.

Agora era a vez de os visitantes retribuírem. A banda, formada exclusivamente por mulheres e que, por sinal, tinha mais gente que toda a delegação esportiva da Coreia do Norte, começou a tocar. Trompete, tuba, flauta, tambor... Além da música, coreografias bem ensaiadas. Nessa hora os norte-coreanos se sentiram mais à vontade. Batiam palmas e até ameaçaram um gingado.

O clima era mais leve. A imprensa já não respeitava mais os limites estabelecidos. Tudo era registrado de perto, sem aquela segurança extrema do início. Alguns membros da organização ainda tentavam afastar jornalistas e fotógrafos, mas era em vão. A festa tinha começado e todos podiam participar. Norte e sul-coreanos dançavam juntos e, de mãos dadas, colocaram até a mascote dos Jogos, o tigre branco Soohorang, na roda. A frase no clássico mural olímpico de assinaturas em PyeongChang começava a fazer sentido: "Transformando muros em pontes".

Empurra-empurra e poucas palavras

Quando a música parou e chegou a hora da despedida, uma confusão tomou conta do local. Todos queriam um registro daquele momento. Os norte-coreanos mantiveram o bom humor enquanto a imprensa se empurrava pelo melhor registro. Funcionários da organização tentavam abrir caminho para a saída da delegação. Os atletas sorriam e acenavam felizes. Depois de muito empurra-empurra, conseguiram sair novamente escoltados. Nenhum se arriscou a dar entrevistas. Um dos membros da equipe norte-coreana levou a mão ao rosto fazendo o gesto de "boca fechada", "não posso falar". Os que responderam alguma coisa se resumiram a dizer que tudo estava em ordem: "Está tudo ótimo. Estão fazendo tudo para que a gente se sinta bem".

O chefe da delegação norte-coreana e vice-ministro de esportes, Won Gil-woo, declarou rapidamente a jornalistas do seu país durante a muvuca: "É muito legal ver essas pessoas sendo uma só, festejando juntas". Econômica nas palavras, a técnica da patinação artística também comentou com a imprensa norte-coreana: "Estou muito feliz de estar aqui. Quero fazer todo o povo norte-coreano feliz nessa Olimpíada".

Alívio. Deu tudo certo. Nenhum incidente ou gafe diplomática. Membros da organização se cumprimentavam ao fim da "operação".

É de conhecimento geral que a relação o Sul e o Norte é frágil desde a Guerra das Coreias na década de 50. Em teoria, as duas ainda estão em guerra, já que nunca assinaram um tratado de paz. A troca de ameaças entre os governos é constante, mas nessa Olimpíada o Comitê Olímpico Internacional interviu para que os vizinhos pudessem conviver em paz, pelo menos durante um mês. Nesta sexta-feira, os dois países caminharão juntos na Cerimônia de Abertura dos Jogos de PyeongChang. Um passo pequeno, mas pertinente, na busca melhores dias.

 


Fonte: Raphael Andriolo e Thierry Gozzer/Globo Esporte


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