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Baldan abre unidade em Taquaritinga

Em uma conversa franca, o diretor presidente Celso Ruiz fala sobre o que motivou a instalação na cidade vizinha, o mercado, números, concorrentes, demissões e negociações


Celso Antônio Ruiz, diretor presidente da Baldan, umas das mais tradicionais empresas do setor agrícola, com mais de 90 anos de existência, renomada mundialmente na manufatura de máquinas e implementos agrícolas, concedeu uma entrevista exclusiva, franca e direta à reportagem do jornal A Comarca, nesta semana. Durante mais de duas horas, apresentando jornais antigos, relatórios, planilhas e cópias de documentos, ele falou sobre a abertura de uma nova unidade na vizinha Taquaritinga, sobre realocação de funcionários, concorrentes, paralisações, demissões e previsão de mercado. Confira.

Na semana anterior foi divulgada a informação, em redes sociais, de que a Baldan irá instalar uma unidade em Taquaritinga. Essa informação procede?

Sim. Em meados de setembro de 2018, o barracão da Baldan onde era feita a montagem de mancais sofreu um incêndio que inviabilizou a célula de mancal. Desde então, empresas de Matão gentilmente estavam realizando este serviço, a quem agradecemos em especial a Mancal Matão e a ATA Antoniosi, que prontamente nos ajudaram para que a produção da fábrica não fosse interrompida. Quero também deixar aqui registrado nossos profundos agradecimentos à nossa Brigada Interna de combate a incêndios, ao Corpo de Bombeiros, ao Poder Público e às empresas matonenses que prontamente enviaram pessoal e caminhões pipa para a contenção desse lamentável incidente. Graças a Deus, não houve nenhuma vítima. Pela urgência em resolvermos a situação, visitamos alguns locais e recebemos a oferta do prefeito de Taquaritinga (Vanderlei Mársico) de uma área industrial de sua propriedade particular. Analisamos os custos e questões logísticas, dentre outras, e decidimos montar essa unidade lá.

Ela abrigará somente a montagem de mancais?

Inicialmente, ela terá dois objetivos: a montagem de mancais bem como a fabricação de produtos especiais sem interferir no processo produtivo atual na planta de Matão. Hoje, dificilmente conseguimos colocar um produto especial em produção sem atrapalhar nosso processo produtivo, que é em série. Lá, teremos espaço e flexibilidade para isso.

Como este local foi escolhido? Será necessário investimento?

A área em Taquaritinga, cerca de 2 mil m², já dispõe, além do espaço físico, de maquinário de corte a laser, usinagem e prensas que poderemos utilizar sem a necessidade de investimento. O local já está montado. A construção de um novo barracão ou a recuperação da área incendiada custaria milhões de reais. Ao invés disso, estaremos em um local já pronto com maquinários compartilhados. Esse tipo de compartilhamento já é uma realidade no mundo todo. Para sobrevivermos nesse mundo tão competitivo é necessário o uso responsável dos recursos, bem como investir o mínimo possível em ativos de alto valor. Futuramente poderemos, a nosso critério, adquirir ou não essa área.

Quando a nova unidade entrará em operação? Serão contratados funcionários?

O início das operações será no dia 1º de junho e a unidade proporcionará 40 vagas de emprego para Taquaritinga. O Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) já está recebendo currículos e acredito que essa expansão da empresa é um alento para a população daquela região. [As vagas oferecidas são para soldadores, montadores, pintores industriais e inspetores de qualidade].

E os funcionários que trabalhavam com a montagem de mancais no barracão que pegou fogo?

Eles já foram avisados que serão realocados para outras áreas dentro da empresa em Matão. Ninguém será dispensado por isso. A empresa não está de mudança para Taquaritinga, apenas estamos expandindo com o mínimo de investimento. É muito comum empresas terem unidades em outras cidades. Aliás, a empresa tem direito legal e constitucional de abrir outra unidade em qualquer lugar do país e até no exterior; é o princípio da livre iniciativa e da propriedade privada. Outras empresas de Matão têm unidades fora daqui. Resolvemos, estrategicamente, dentro do nosso direito, abrir essa unidade.

Vocês não encontraram nenhuma área que atendesse às necessidades em Matão?

Nós tínhamos pressa em substituir a área afetada pelo incêndio e é difícil encontrar um local com as instalações adequadas ao nosso processo. A área de Taquaritinga tinha tudo o que precisávamos. Mas, aproveitando sua pergunta, é bom esclarecer alguns pontos. Face ao aumento exorbitante dos nossos custos, principalmente mão de obra, optamos por uma cidade menos inflacionada. Estamos estabelecendo vários diálogos com nossos colaboradores e, há anos, alertando-os da nossa preocupação com a escalada de reajustes muito acima da inflação. Para se ter uma ideia, no período de 2011 a 2018, nossa empresa reajustou salários em 78%; desse índice, 27% é de aumento real, enquanto as demais empresas filiadas ao Sindimaq [Sindicato Nacional da Indústria de Máquinas], das demais cidades de São Paulo, pela convenção, reajustaram em 59% – uma diferença de 19%.

E quanto ao PPR (Plano de Participação nos Resultados)?

O primeiro foi pago em 2008 e de lá para cá subiu, pasmem, 240%. Um PPR que, mesmo se a empresa registrar prejuízo, tem que ser pago. Na semana passada houve a necessidade de parcelar o valor que deveria ser pago no dia 28 de março. Como todos sabem, nosso mercado é sazonal, de novembro a abril as vendas caem. Explicamos isso ao Sindicato [dos Metalúrgicos] e aos colaboradores, porém, para nossa surpresa, nos deparamos com manifestações, ofensas pessoais e ameaças de paralisação caso a empresa não realizasse o pagamento na data. Como explicado aos colaboradores em comunicado oficial da presidência da empresa, além da crise dos últimos quatro anos que derrubou as margens de lucro e levou muitos empreendimentos a falência, um PPR que em 10 anos subiu 240% em algum momento vai gerar dificuldades. E não só. Esse é um compromisso, dentre outros, assumido sob pressão, “com a faca na garganta”, pois do contrário, não atendendo às reivindicações muito acima dos pleitos do estado de São Paulo e até do país, a empresa é ameaçada sistematicamente com paralisações. Isso precisa mudar! Nossos concorrentes não são mais dois ou três pelo Brasil, são centenas, milhares, pelo mundo. O cliente não paga mais pelo nosso produto porque temos um custo maior. Ele procura outro. Ele troca de fornecedor facilmente. Não é de hoje que se faz esse alerta, mas parece que pregamos no deserto.

As negociações são sempre momentos tensos. Historicamente, Matão tem negociações que fogem do padrão nacional.

Em 2016, por exemplo, três empresas de Matão, dentre elas a Baldan, sofreram com uma paralisação de 15 dias. Na segunda semana de greve, em audiência no TRT [Tribunal Regional do Trabalho] em Campinas, a desembargadora mediou um acordo entre as empresas e o Sindicato que representava os trabalhadores. Entretanto, a Assembleia reprovou o acordo. Dois dias depois, as empresas, pressionadas, cederam em todas as reivindicações concedendo 11% de reajuste, bem como R$ 1 mil de abono para cada colaborador e pagamento integral dos 15 dias em que não houve a prestação de serviço. Em 2012, duas empresas, também de Matão, ficaram paralisadas de 40 a 51 dias. Veja o ano de 2017, no furacão da crise, o reajuste concedido foi de 5,93%, enquanto a inflação ficou em 1,73%. Foi 4,20% a mais de reajuste. O abono foi instituído em substituição ao aumento real. Aqui não, damos abono e aumento real. É insustentável. Precisamos mudar esses conceitos. Respeitar os limites de uma empresa. Pois ela só pode gerar empregos em um ambiente mínimo de paz, harmonia e entendimento. É o que todos querem. Conceder sucessivamente, ao longo dos últimos 10 anos, reajustes muito acima do que se concede em todo o estado de São Paulo e no Brasil é um sério risco para a perpetuação de qualquer negócio. Ao invés de ficarmos debatendo nossa nova unidade em Taquaritinga, vamos debater nossa realidade aqui em Matão. Precisamos ficar em pé de igualdade com nossos concorrentes. Voltar a seguir a Convenção Coletiva da nossa Categoria firmada entre Sindimaq, FEM-CUT e Sindicato de Trabalhadores.

Muito se tem falado sobre as demissões ocorridas no final de 2018 e sobre o não pagamento dos direitos rescisórios. Como está essa situação?

Infelizmente, no final de 2018 a empresa, apesar de todos os esforços, teve que reduzir seu quadro em 120 colaboradores [hoje, no total, são 1 mil funcionários diretos]. Na ocasião, a empresa pagou integralmente as verbas rescisórias. No tocante a multa de 40% e FGTS atrasado foi necessário realizar um parcelamento. A pedido do próprio Sindicato dos Metalúrgicos houve uma mesa redonda na DRT de Araraquara, no dia 5 de janeiro de 2019, que resultou num acordo entre a empresa e o Sindicato para um parcelamento de até 15 vezes. Digo que até a 9ª parcela, 80% dos trabalhadores já terão recebido o valor integral. É importante frisar que, através desse acordo, a empresa manterá o plano de saúde até a quitação das parcelas. A Baldan pagou também de forma espontânea, a todos os seus ex-colaboradores, uma multa equivalente a um salário nominal de cada funcionário, sem a necessidade de recorrerem à Justiça do Trabalho.

Como a empresa vê as manifestações dos últimos dias?

Diante de tudo isso, causam estranheza as paralisações das atividades, mesmo que breves, ocorridas nos últimos dias, com ataques à administração sobre esse assunto que entendemos já superado, apesar de nosso desejo ter sido pagar tudo de uma única vez. Mas, só para lembrar, essa empresa já pagou – entre acordos amigáveis, extrajudiciais e judiciais – de verbas trabalhistas, nos últimos 10 anos, a considerável importância de R$ 35 milhões. Exceto o último acordo de parcelamento de Fundo e multa de 40%, não há nenhuma pendência com seus atuais ou ex-trabalhadores. O FGTS não recolhido encontra-se, inclusive, com acordo de parcelamento junto a Caixa Econômica Federal. Nosso objetivo é claro: trabalhar em paz, produzir, gerar empregos, promover o bem-estar de nossa sociedade e gerar divisas ao município de Matão. Mas devemos ter a consciência de que não estamos sozinhos. Todos os dias, temos um ou mais leões para enfrentar. O Brasil passa por momentos de forte transformação no campo político e econômico. O desemprego ainda é alto. A recuperação está mais lenta do que se imaginava. O bom senso deve prevalecer entre as partes. Em pleno século XXI, ano de 2019, é inadmissível trabalhar com todo esse ambiente de incertezas e altos riscos sob a ameaça constante da paralisação de uma atividade, baseada em uma lei de mais de 50 anos, deveras ultrapassada.

Há previsão para mais demissões neste ano?

Não há previsão para demissões neste ano. Nosso orçamento para 2019 foi construído considerando a força de trabalho atual.

E a Reforma Trabalhista, interferirá de algum modo nas relações?

Que Reforma? Só se for nos outros mais de 5 mil municípios brasileiros. Em Matão não tem Reforma Trabalhista, pelo menos para nós. Desde a aprovação da Reforma fomos praticamente obrigados a aceitar o que o Sindicato colocou. Obviamente não concordávamos com vários pontos, mas alguns achávamos importantes e também tínhamos a mesma opinião, como não permitir o trabalho de grávidas em locais insalubres, continuar homologando as rescisões no Sindicato, dentre outros. No entanto, os pontos da Reforma que podem flexibilizar as relações trabalhistas, sem retirar direitos, ajudam empresas com mercado sazonal como é a nossa. Mas estamos engessados. Está ficando impossível de competir com concorrentes do mundo todo com uma legislação trabalhista da década de 1940. Nesse aspecto, a Reforma me parece que inovou. Mas em Matão, não. Aqui tudo é diferente. E por isso, num futuro breve vamos, ou melhor, já estamos pagando um alto preço por isso.

Falando em concorrência, como você vê o mercado?

Estamos no período de baixa, mas acreditamos num ano médio em virtude de algumas perdas de produção em regiões por conta do fenômeno El Niño, bem como incertezas sobre qual o volume de recursos e taxas que o governo anunciará no Plano Safra [que vigorará de julho de 2019 a junho de 2020].

E quanto à Agrishow, quais são as expectativas para a feira deste ano?

Os resultados também dependerão da sinalização por parte do Governo Federal, do quanto de recurso será alocado ao Plano Safra e em parte da taxa de juros a ser praticada.

Voltando a falar da unidade aberta em Taquaritinga, há alguma possibilidade de mudança de posição? De essa unidade ser aberta aqui em Matão?

Firmamos compromisso com prazos pré-definidos e contratos assinados. Precisamos iniciar as atividades o quanto antes. Como disse, essa unidade dispõe inclusive de maquinário apropriado. Todavia, futuramente nada está descartado. A origem da Baldan está em Matão. Amamos essa terra, de povo acolhedor e muito humano. Mas não depende apenas de nós.

Para finalizar, qual mensagem você gostaria de deixar?

Quero deixar uma mensagem de esperança e fé. Acreditamos, confiamos e amamos nossa empresa, nossos colaboradores, nossa cidade e nosso país. Todavia, estou sendo muito franco com todos. É necessário rever os conceitos e a forma de se negociar por aqui. Ameaças e pressões exacerbadas só vão piorar as coisas. Não resolvem. Já passamos do limite do razoável.


Fonte: Ingrid Alves


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