Cia. Labirinto, 15 anos - teatro e memória por uma gestação cultural
POR JULIANO JACOPINI
- Postado por Natali Galvao |
- terça, 17 de dezembro de 2024 | 10:16 hs
O que é viver de arte? Para nós, da Cia. Labirinto de Teatro, esse desejo sempre foi o almejo, tanto que em 2009, ano em que a Cia. se consolidou com integrantes advindos, em sua maioria, do percursor Grupo Pegando N’Arte, não medimos esforços para descobrir as formas de viver de teatro, em uma cidade pequena e do interior.
O tempo passa e vai revelando além das perguntas para as quais buscamos respostas; vai descortinando os véus da memória e mostrando que a história carece de ser contada desenovelando o novelo; vai mostrando que o artista é, em si, um ser em miríade e que, acima de tudo, está para servir ao público.
Daí que, passados 15 anos, é possível comemorar uma trajetória que emancipa a cidade de Matão – os filhos da Terra da Saudade – em formas de se encontrar com a arte nas mais plurais manifestações, marcadas pela presença constante e formadora dos atuadores da Cia. Labirinto de Teatro, seja como artistas, como professores, como arte-educadores, como gestores públicos... sempre com o convite para uma nova maneira de ‘viver de arte’.
Não nos coube apenas o teatro – este que arduamente estamos numa busca constante para nos nutrir, e que cabe a nós mesmos inventar o tempo para curarmo-nos dessa falta –, coube-nos mais! Junto com a Cia. Labirinto de Teatro iniciou, também em 2009, o Fronteiras Brasil – Festival Internacional de Arte-Educação, este que originou a Casa Pipa – Plataforma Internacional de Produção Artística, espaço de residência e resistência artística que é sede do grupo desde sua fundação, em 2011. Portanto, Fronteiras Brasil, Casa Pipa e Cia. Labirinto foram amadurecendo juntos, se retroalimentando e fazendo circular saberes que formaram os fazedores do coletivo, fundamentalmente à luz de uma práxis horizontal.
Os saberes, por mais que sempre inventivos, extrapolaram o fazer teatral e, por necessidade, aprendemos formas de produzir e gerir coletivamente a produção cultural do interior paulista, pela necessidade de manter a Casa Pipa estrutural e simbolicamente, daí nos mantermos também guiados pelo teatro. Mas não só, afinal, o acontecimento que nos une e nos mantém em movimento, esgarça a pergunta que abre este preâmbulo: o que é viver de arte? Não mais sabemos viver a arte, senão embaralhada em nosso ofício diário, e isso não tem relação com remuneração ou reconhecimento por sermos artistas, mas sim com confundirmos a todo instante onde começa e onde termina a linha tênue do que fazemos em nossa vida que não seja para a cultura de nossa cidade.
Temos morada, que é pedra fundamental para essa memória que possibilita a circulação e renovação de ideias, porque temos chão e céu para receber as pessoas e estabelecer os encontros. Destes, alguns que são cruciformes, como: o encontro com Lygia Nicolucci, amiga, professora e gestora que idealizou a Casa Pipa e abriu caminhos para tantos percursos; o encontro com Khosro Adibi, que nos valorizou como artistas e nos provoca até hoje mesmo estando do outro lado do mundo; o encontro com o Grupo Coro e Osso, que de 2016 a 2018 possibilitou, além da criação do espetáculo ‘Cordel de Condão’, a construção do Teatro Multiuso mais equipado que temos em Matão nos dias de hoje, que comporta aproximadamente 100 pessoas; o encontro com o Grupo Galhofas, em tantas residências e momentos que trouxemos os atores também para nosso grupo; o recente encontro do FLIGSP – Fórum do Litoral, Interior e Grande São Paulo, que reuniu, em janeiro de 2024, representantes de mais de 50 cidades do estado na 15º edição do fórum para discutir políticas públicas culturais; os encontros do Festival Fronteiras, que a partir de 2017 passaram a acontecer na Casa Pipa sob produção e coordenação da Cia. Labirinto, e que em 2025 chegará a sua 15ª edição; o encontro com o Grupo de Maracatu do Programa Teia, que em 2024 provocou-nos para a montagem de um novo espetáculo conjunto, ao reencontramo-nos com a obra de Garcia Lorca, ‘Yerma’, pensada para a rua.
De nosso teatro e de nossa memória, seguimos juntos nessa ‘gestação’ cultural!
Fundada em 1º de dezembro de 2009, em Matão, a Cia. Labirinto de Teatro é formada por artistas híbridos, em sua maioria também educadores, com pesquisas via abordagem horizontal para suas criações que exploram o corpo, o animado, a dramaturgia e as intersecções nas artes. Com sede na Casa Pipa, a Cia. – que é Ponto de Cultura – atua também com gestão e produção cultural e vem deixando sua marca como expoente no cenário do interior paulista.
Atuadores atuais: Ana Brambilla, Douglas Aranha, Ellen Candido, Felipe Casati, Helena Farias, Joe Maraca, Juliano Jacopini, Mabê Henrique, Michele Alves, Simone Marcondes, Thiago Gardini e Grupo de Maracatu do Programa Teia.
CRONOLOGIA ARTÍSTICA
2009 – Valsa nº 6
2010 – Esperando, um descalçar-se
2011 – Vão
A Cidade no Avesso
Rascunhos
2012 A(R)RISCO
Bodas de Sangue
2013 ... it...
2014 Do Amor
2015 Dagajan
2016 Ame!
2018 Desmontagem do Si
Abrolhos – Leitura Dramática
Cordel de Condão
2019 A História do Barquinho
Alvíssaras
Um Teatro de Memórias – 10 anos
2020 Do dia que nos foi dito que o dia se repetiria
Que história é essa?
À Espera
2021 Bortolomeu e Jesusinha
Abrolhos – Websérie
Abrolhos – Palco
Uma peça de instruções
Arrebol
2022 Fantasia
Lola, a pomba tola
2023 11
Cabeça, pra quê te quero?
2025 - A Cia. Labirinto de Teatro quer fazer teatro com você!
Em breve será lançada a chamada para interessados se inscreverem na Oficina-Teatro. O curso/vivência – que pretende ser finalizado com um cortejo/montagem de espetáculo – terá formato de 15 encontros, aos sábados (das 14 às 18 horas), junto ao Grupo de Maracatu do Programa Teia. Acompanhe nas redes sociais: @cialabirinto @casapipa_
Fonte: Juliano Jacopini é doutor em Artes da Cena, atuador da Cia. Labirinto de Teatro e diretor de Cultura de Matão
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